Há sete anos a cuidadora de idosos Ide Neide de Fátima Solina não coloca um cigarro na bocaArquivo pessoal / Facebook

A mãe e o irmão da ex-fumante Ide Neide de Fátima Solina, de 55 anos, foram vítimas fatais do tabagismo. Mesmo com o diagnóstico de embolia pulmonar, lembra a cuidadora de idosos que mora na cidade de São Carlos, interior de São Paulo, “eles não conseguiram se livrar da dependência da nicotina”.

— Fiquei assustada de ver minha mãe agonizando no hospital por causa do cigarro, mas nem assim ela largou o vício. Infelizmente, fumou até morrer. Mesmo com este exemplo na família, meu irmão, também fumante, morreu com a mesma doença no ano passado. Eu não queria isso para mim.

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De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), o cigarro mata cerca de 200 mil brasileiros por ano. A perda de dois membros da família Solina já seria motivo suficiente para Ide, que fumava um maço de cigarro por dia, encarar o desafio de dar adeus ao vício. A reclamação frequente das filhas por causa do cheiro do tabaco e as fortes crises de gastrite deram ainda mais força para ela seguir em frente nesta árdua tarefa.

— Fumei dos 16 aos 38 anos e, desde o dia que decidi parar, há sete anos, nunca mais coloquei cigarro na boca. Não precisei de remédio e minha estratégia foi substituir o horário do cigarro pelo crochê ou outras atividades que me agradavam.

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Os benefícios desta atitude consciente foram quase imediatos. Além de preservar a saúde, Ide Neide garante que sua pele ficou mais bonita, o paladar voltou, o humor melhorou, assim como a disposição para fazer uma hora de caminhada todos os dias.

— Engordei 20 quilos, mas rejuvenesci uns 15 anos. Como eu era uma fumante ‘cadavérica’, o ganho de peso foi positivo, pois fiquei mais bonita. Tenho mais disposição e acho delicioso não ser fumante.

Tratamento

É verdade que nem todo fumante consegue deixar o cigarro de lado apenas com força de vontade, como aconteceu com Ide Neide. Mas, para a cardiologista Jaqueline Issa, membro do Comitê Antitabaco da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), este é o primeiro e grande passo para o início do processo.

— Determinação e motivação são fundamentais, já que a medicação não faz milagre e entra em cena com o objetivo de amenizar os sintomas da abstinência, como insônia, compulsão alimentar, ansiedade, depressão e irritabilidade.

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Segundo a especialista, o grau de dependência à nicotina é um dos fatores determinantes para o fumante ter mais ou menos dificuldade na hora de largar o vício. E, ao contrário do que muitos acreditam, o tempo de tabagismo não é o principal obstáculo.

— Para saber se o paciente é muito ou pouco viciado, perguntamos a ele em quais situações do dia a dia o cigarro é imprescindível e não há quanto tempo ele fuma. Com este relato, é possível avaliar o grau de dependência e ajudá-lo a se livrar da nicotina.

O tratamento medicamentoso dura, em média, três meses — período que o fumante está mais vulnerável às crises de abstinência. Após este tempo, é ainda mais importante o apoio da família e o acompanhamento médico, que pode se estender por até um ano ou a vida inteira.

— As primeiras semanas são as mais complicadas e as recaídas estão associadas aos quadros de estresse agudo, como perdas na família ou do emprego.

Para prevenir as recaídas, a médica orienta fugir daquela ideia de “apenas uma tragada” para satisfazer o desejo ou aliviar a tensão. Praticar atividade física, buscar técnicas de relaxamento e evitar lugares e situações que o cigarro está presente são alguns dos truques para driblar a tentação.

— Não há nada mais econômico e efetivo na medicina do que ajudar uma pessoa a parar de fumar.